Apelação à Inteligência Artificial: Perguntas Críticas

Apelação à Inteligência Artificial Perguntas Críticas

Nota: As imagens são meramente ilustrativas e, em sua maioria, geradas pelo MidJourney.

A Apelação à Inteligência Artificial: Uma Reflexão Crítica

Nos últimos 20 anos como jornalista, já vi e escrevi sobre uma série de coisas que mudaram irrevogavelmente minha visão sobre a humanidade. Mas, recentemente, algo me deixou completamente desconcertado.

Estou falando sobre um fenômeno que você também pode ter percebido: a apelação à inteligência artificial.

É bem provável que você já tenha visto alguém utilizando essa apelação online, ou até mesmo ouvido. Trata-se de uma falácia lógica que pode ser resumida em três palavras: “Eu perguntei ao ChatGPT.”

  • Eu perguntei ao ChatGPT para me ajudar a descobrir minha doença misteriosa.
  • Eu perguntei ao ChatGPT para me dar conselhos duros sobre o que preciso para crescer como pessoa.
  • Eu usei o ChatGPT para criar uma rotina personalizada de cuidados com a pele.
  • ChatGPT apresentou um argumento sobre o afastamento relacional de Deus que é logicamente possível, sem considerar a natureza dos relacionamentos ou o livre-arbítrio.
  • Existem tantas agências governamentais que até o governo não sabe quantas existem.

Nem todos os exemplos seguem essa formulação exata, apesar de ser a forma mais simples de resumir o fenômeno. As pessoas podem usar ferramentas como Google Gemini, Microsoft Copilot ou até mesmo seus chatbots pessoais. Mas o elemento comum aqui é a confiança reflexiva e sem fundamento em um sistema técnico, que não foi projetado para realizar a tarefa que você está solicitando, e a expectativa de que os outros aceitem isso.

A Irritação da Apelação à AI

Ao ver essa apelação à AI, minha primeira reação sempre é a mesma: Você está ficando maluco? Por algum tempo, a frase “Eu perguntei ao ChatGPT” me fez simplesmente perder o interesse no que a pessoa tinha a dizer. Eu classifiquei isso mentalmente como mais uma das falácias lógicas que conhecemos: o espantalho, o ad hominem, a corrida Gish, e o “não é um verdadeiro escocês”. Se eu ainda comentasse em fóruns, esse seria o tipo de assunto que eu queimaria.

Mas a apelação à AI está aparecendo com tanta frequência que vou morder a língua e tentar entender.

Aspectos Tristes e Preocupantes

Vamos começar com o exemplo mais simples: o caso do Musk, onde ele promove seu produto enquanto se envolve em propaganda. Os outros exemplos são mais complexos.

Em relação à doença misteriosa, o autor recorre ao ChatGPT pela atenção e respostas que não consegue obter de um médico. No que diz respeito ao conselho de “amor duro”, o perguntador afirma ter ficado “chocado e surpreso com a precisão das respostas”, embora sejam todas genéricas e possam ser obtidas em qualquer programa de rádio. E no caso da rotina de cuidados com a pele, poderia simplesmente ter pego um conselho de uma revista feminina – não há nada especialmente exclusivo nisso.

Desconfiança no ChatGPT

Os textos do ChatGPT parecem confiantes, e as respostas são detalhadas. Isso não significa que elas estejam corretas, mas têm a aparência de estarem. Esses sistemas, como qualquer um que já usou um modelo de linguagem, prevêem respostas prováveis para comandos, gerando sequências de palavras com base em padrões em uma vasta biblioteca de dados de treinamento.

No entanto, o problema é que o ChatGPT não é confiável. A interface parece limpa e a resposta soando autoritativa pode enganar quem realmente não quer ou não sabe avaliar a qualidade das informações. O viés de confirmação é real e isso pode levar a grandes desastres.

Falta de Confiança na Experiência Humana

A forma como estabelecemos a confiança é uma questão complexa. Eu, como jornalista, gosto de mostrar meu trabalho, compartilhando a quem perguntei e quais fontes utilizei. A apelação à AI surge porque humanos não têm respostas, resultando em comportamentos de pura preguiça.

É alarmante que pessoas tenham perdido a habilidade de verificar informações e confiem tão cegamente em sistemas automáticos. Além disso, o que se vê é uma falta de fé no esforço humano e um desprezo pelo conhecimento humano.

A apelação à AI começa a se tornar a norma, e se não pararmos para refletir sobre isso, podemos nos deparar com um futuro muito sombrio.

Considerações Finais

Acredito que a sociedade precisa se questionar acerca da confiança cega em máquinas. Essa questão vai além da simples utilização de ferramentas tecnológicas; trata-se de entender o valor do conhecimento humano e da experiência pessoal. O que está em jogo é muito maior do que podemos imaginar.

Felipe Massari

Visuailzer co-founder

Psicólogo e Neurocientista, especialista em Neuromarketing e Marketing Digital. Domina Engenharia de Prompts e Redes Neurais. Atua no Comercial e Vendas, unindo Ciência, Tecnologia e estratégia para criar soluções inovadoras e focadas em resultados para Empresas.

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