A possível saída do TikTok dos EUA e a reação dos criadores de conteúdo
Já se passaram mais de quatro anos desde que Donald Trump começou a campanha para banir o TikTok nos Estados Unidos. E agora, prestes a iniciar um segundo mandato, a situação pode finalmente se concretizar.
O presidente Joe Biden sancionou uma legislação em abril do ano passado, que começou a contagem regressiva para que a empresa-mãe do TikTok, a ByteDance, se desfizesse de suas operações nos EUA. Contudo, mesmo após isso, a atmosfera em torno do aplicativo continuava descontraída, com algumas piadas ocasionais sobre “o desaparecimento deste app”.
No entanto, nas últimas semanas, a situação mudou. Criadores de conteúdo estão promovendo suas outras contas em redes sociais, o público está fazendo compilações dos momentos mais virais do TikTok e se despedindo do seu “espião chinês”, ameaçando entregar seus dados ao governo da China. Uma nova aplicação chinesa chamada Xiaohongshu, ou RedNote, está dominando a App Store, atraindo um grande número de “refugiados do TikTok” que tentam reproduzir a experiência do famoso aplicativo. O clima é como se estivéssemos no último dia de aula.
A experiência dos criadores de conteúdo diante do possível banimento
Para muitos criadores, essa não é a primeira vez que têm que migrar para novos espaços. O alcance, a interação e a visibilidade estão sempre mudando, mesmo nas plataformas mais consolidadas. Agora, no entanto, a ideia de que um site de redes sociais desse tamanho possa desaparecer ou se tornar não funcional representa uma nova ameaça, especialmente para os criadores menores. Para muitos, o TikTok é como jogar na loteria: não é necessário ter milhares de seguidores para um vídeo viralizar, e essa imprevisibilidade incentiva as pessoas comuns a postarem conteúdo.
Ainda não está claro o que acontecerá com o TikTok após o dia 19 de janeiro. Perguntei a alguns criadores quais são seus planos. Os comentários foram condensados e editados para maior clareza.
NOELLE JOHANSEN, @ASTRAEAGOODS (89K seguidores)
Noelle compartilha: “No auge, aproximadamente 70% das minhas vendas vinham do TikTok entre dezembro de 2020 e janeiro de 2022. Atualmente, isso não passa de 10%.” Ela vende moletons com slogans, acessórios e outros produtos.
“TikTok me permitiu alcançar muitos clientes facilmente. O Instagram e o Twitter sempre foram um tiro no escuro quanto à visibilidade do conteúdo, mas o TikTok era mais consistente em mostrar meus vídeos para seguidores e potenciais novos clientes”, disse Johansen. Ela planeja focar no X e no Instagram para vendas enquanto tenta construir uma audiência no Bluesky e no Threads.
KAY POYER, @LADYMISSKAY_ (704K seguidores)
Kay enfatiza: “A facilidade de uso do TikTok abriu um caminho para muitos criadores em potencial.” Ela observa que agora há uma divisão, onde muitos podem optar por parar ou voltar a plataformas mais antigas, que tendem a ser mais difíceis de monetizar. Kay pretende ficar onde houver engajamento. “Estou vendo um aumento significativo de inscritos no meu Substack e no meu Instagram e Twitter”, afirmou. Para ela, seu podcast, Meat Bus, se tornará o carro-chefe de seu conteúdo, com episódios em vídeo previstos para o próximo mês no YouTube.
BETHANY BROOKSHIRE, @BEEBROOKSHIRE (18K seguidores)
Bethany, jornalista de ciência, compartilha vídeos sobre anatomia humana em várias plataformas. Ela observa que o YouTube não é um bom lugar para construir uma audiência. “Encontro mais engajamento no TikTok, cujos comentários são muitas vezes tocantes ou engraçados”, diz. Ela expressa que compartilhar conteúdo em qualquer lugar pode ser complicado, e quer estar onde as pessoas estão.
WOODSTOCK FARM SANCTUARY, @WOODSTOCKSANCTUARY (117K seguidores)
O Woodstock Farm Sanctuary utiliza o TikTok para compartilhar informações com novas audiências. “TikTok nos permite alcançar pessoas que não sabem o que são santuários de animais”, compartilha Riki Higgins, coordenador de redes sociais.
ANNA RANGOS, @HONEYWHIPPEDFETA (15K seguidores)
Anna, que faz vídeos de comentários sobre tecnologia e cultura, viu como é frágil uma base de seguidores em plataformas sociais. “Você pode acordar um dia e encontrar suas contas desativadas, e restaurá-las? Esqueça isso”, diz. Ela está se esforçando para construir seu próprio espaço por meio de um site e uma newsletter, mantendo-se ativa também no YouTube e Pinterest.
AMANDA CHAVIRA, @LOST.BIRDS.BEADS (10K seguidores)
Amanda, uma artista indígena, planeja repostar seu conteúdo no YouTube Shorts e aguardar uma nova plataforma viável. Ela não se moverá para a Meta, planejando deletar suas contas no Threads e no Instagram. “O Facebook se tornou um lugar terrível durante os ciclos eleitorais e a pandemia”, diz Amanda.
Considerações Finais
É interessante notar como a incerteza sobre o TikTok afeta a criatividade e a estratégia de muitos. Para os pequenos criadores, a volatilidade é uma constante. O que resta é adaptar-se e encontrar novos caminhos, sempre buscando o engajamento e a autenticidade nas plataformas que escolherem. Como tudo que é digital, é um lembrete de que o cenário pode mudar de um dia para o outro.